domingo, 28 de abril de 2013

Crise canarinha

   O futebol brasileiro já era rotulado como "em crise" quando os bons resultados ainda existiam. Lá em 2006, ao final da Copa, a Brahma colocou um comercial minutos após a eliminação do Brasil diante da França. Na propaganda, a frase era algo como "A próxima Copa está aí. Vai, Brasil!".
 
   A seleção foi assumida por Dunga, e, desacreditada, com Kaká e Júlio Baptista no meio-campo, conseguiu ser campeã da Copa América sobre a Argentina, fácil.
 
   Conquistou a Copa das Confederações e chegou novamente com ares de favorita à África do Sul. Empatou com Portugal, venceu Coréia do Norte, Chile e Gana. Caiu para a Holanda num dia péssimo de Júlio César, Felipe Melo e cia. "Adeeeeuus Dungaaaa" ecoou da arquibancada. E "adeus, Dunga" foi dito pela CBF.
 
   Mano Menezes chegou e foi medíocre. Nem bom, nem ruim. Ganhava bem de adversários fracos e tropeçava na tradição dos grandes. Mas é certo que nos últimos meses de seu trabalho, o Brasil ganhava um esquema tático moderno e uma cara. Caras. Mano vinha convocando frequentemente os mesmos jogadores, fazendo uma mudança aqui, outra acolá. Tinha-se uma máquina em que algumas peças estavam em teste.
 
   Sai Mano, entra Felipão. Susto, surpresa. Esperança, descrença. Sai o esboço do "moderno", entra o pragmático, o antigo. Não acho que a ausência de volantes brucutus e, no lugar deles, os volantes habilidosos e goleadores, seja a solução única. Pode dar certo com David Luiz. Pode dar certo com Ramires e Paulinho, mas "pode", não é certo que dê. Não é essa a questão.

 
   Primeiro, que os jogadores são bons. Temos uma ótima safra. Segundo, que o comando da CBF e as constantes crises da entidade afetam diretamente o time. Terceiro, o único trabalho de um comandante da Seleção Brasileira deve ser convocar e escolher os 11 que começam em campo. A última tarefa do técnico é se dirigir aos jogadores exigindo que eles joguem à vontade, ou, melhor dizendo, que atuem como estão habituados em seus clubes. "Neymar, você gosta de se movimentar e não guardar posição? Então o faça. Lucas, pode driblar e correr o campo todo, não se limite a ficar na direita. Ronaldinho, relembre os tempos de Barcelona e escolha como quer jogar. Ramires, você está no Chelsea aqui na Seleção."
 
   Não existe família no futebol - não na Seleção atual - e nem treinador milagreiro. O que dá resultado é fruto de planejamento e valorização do talento. Investir forte e sério nas categorias de base dos clubes. Enterrar o interesse financeiro e o QI - Quem Indica - comuns na base. Escolher o talentoso e reprovar o "fortão". Valorizar a bola no chão, a cabeça erguida, a coletividade, o time coeso no ataque e na marcação. A proposta é simples, mas leva tempo. Começar agora um trabalho de base sério em clubes grandes, médios e principalmente nos pequenos. Mudar o comando da CBF e trazer juventude à Seleção. Apostar em resultados a longo prazo. Vide Espanha e Alemanha. É disso que estou falando.
 
   Desde 2009 a Seleção não vence adversário de expressão (Alemanha, Espanha, Argentina, Inglaterra, França, Holanda, Itália). Dos cinco jogos com Felipão, uma vitória (4x0 na Bolívia), três empates (1x1 contra Rússia, 2x2 contra Itália e 2x2 contra Chile) e uma derrota (2x1 Inglaterra).
 
   Temos que perder a Copa em 2014. Perder feio. Se a vitória vier, tudo será esquecido e o "bom trabalho" da CBF atual será coroado. Marin sabe dirigir a entidade e Felipão é um gênio.

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